Lolitas, apolos e édipos. Desejos estetizados, erotismo e pornografia. Autocensura e moralismos. A mesa que debateu Arte, moral e erotismo nesta quarta-feira, dia 29, na 12ª Jornada Nacional de Literatura, teve polêmica, aplausos e muitos exemplos de personagens literários que se encaixavam na discussão. Entre os debatedores, Alcione Araújo, Júlio Diniz e Ignácio de Loyola Brandão, coordenadores dos debates, e Milton Hatoum, Elisa Lucinda, André de Leones e Miroslaw Bujko, escritor polonês que está no Brasil pela primeira vez e que já em sua estréia recebeu um bilhete de um grupo de estudantes do seu país que também veio especialmente para a Jornada pedindo para que ele “calasse sua voz”.
“Sempre na Polônia mas não em outros países existem vozes que se levantam contra esses autores. Cada um é responsável pela opinião que emite e é impossível ridicularizar outra pessoa com as nossas próprias palavras. O máximo que pode acontecer é ridicularizar a si mesmo. E assumo aqui a responsabilidade pelo que digo”. Elisa Lucinda foi solidária a Bujko. “Foi um bilhete sem ambiente”.
Ele se apresentou como especialista no tema proposto para o painel. E aproveitou para contar que quando criança foi ao circo diversas vezes e viu homens engolindo facas e mulheres se equilibrando, mas que nunca havia visto um circo como aquele. Na hora, cerca de cinco mil pessoas acompanhavam o debate. Ele comentou o romance “O Trem de ouro”, seu primeiro livro traduzido no Brasil e lançado hoje na Jornada, que em determinada parte alterna parágrafos sobre uma relação sexual e outro sobre o vôo que levava a bomba à Hiroshima, duas histórias sobre explosão. Esse estilo acabou confundindo o tradutor, que não entendendo a intenção do autor, queria separar as duas histórias em capítulos distintos. Prevaleceu a visão do autor.
“O erotismo, que é humano, se põe diante de uma moral construída pela cultura e se transforma em arte”, comentou Alcione Araújo. Sobre a forma de se expressar, ele citou as tragédias gregas, que tratam de todos esses assuntos sem que nenhum corpo toque outro corpo. André de Leones disse que pretende que sua literatura seja amoral, mas não pervertida e nem imoral.
Miroslaw Bujko fala sobre a responsabilidade do escritor em enveredar por esses temas. “Tem que se escrever qualquer coisa, mas tem que se saber por que está escrevendo”, disse o polonês. André de Leones concorda e vai além, dizendo que o escritor está sendo imoral se coloca uma cena de sexo que não tem função nenhuma na história. “Aí é pornografia”. Alcione Araújo comentou a posição dos dois escritores. “Quando nos manifestamos de alguma forma, há uma moral”.
A atriz e poeta Elisa Lucinda disse que em se tratando de erotismo, gosta de dar nomes às coisas. “Coloco palavras excluídas ao lado de outras mais glamurosas”. E comentou que quando escreve não se censura. “Primeiro sai de mim e depois vejo como esse bebê vai sair de casa. Se vai sair como nasceu ou se vou colocar uma gravata”. André de Leones disse que sempre entendeu o processo de criação como algo sensual. “Assim como experimentamos o outro fazendo amor, experimentamos o outro também criando”.
Milton Hatoum disse que essa questão de erotismo e moral está no centro da literatura e que a linguagem é a chave. “O estilo é o que vai dar força e sentido à imagem. Você pode tratar de maneira explícita ou não”. Ele citou os personagens de Joseph Conrad que passam o livro todo tentando reparar alguma falha de sua vida. Falou também do conto Desenredo e de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Uns braços, de Machado de Assim, e comentou sua obra: “Em Dois Irmãos, há incesto por todo lado. É uma família fechada e até os agregados fazem parte dessa experiência libidinosa”.
Questionada sobre a erotização infantil, estimulada por vezes pela televisão, Elisa Lucinda disse: “Prefiro que meu filho veja uma boa trepada na novela das oito do que as notícias de tiros e corrupção no jornal das sete”.
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