Apresentação

“O poeta disse que amar se aprende amando. Penso que viver
também se aprende vivendo e fruir se aprende fruindo.”
Alcione Araújo

O projeto inicial das Jornadas de Literatura, nos anos 80, representou a eclosão de um movimento político-cultural de abrangência nacional. Os tempos do arbítrio mostravam exaustão e, em contrapartida, a sociedade organizava-se na busca de uma nova alternativa de país, amparada na democracia e na justiça social. No que se refere à iniciativa de Passo Fundo, tratava-se de mudar as coisas pela via da leitura e da formação de leitores, retirando o livro dos círculos restritos da intelectualidade e colocando-o nas mãos de milhares de leitores. Nesse sentido, desde o seu início, as Jornadas, mais do que o encontro entre leitores e escritores, consolidaram-se como verdadeiras celebrações do livro, da leitura e da literatura.

Os rumos da política trouxeram novos panoramas e novas problemáticas, da mesma forma como as comunicações ampliaram-se em distintas e múltiplas textualidades. Dialogando com tudo isso, a Jornada, em sua história, tematizou tanto as questões sociopolíticas, discutindo a censura, a inclusão social e as diferenças culturais, quanto as inovações tecnológicas alicerçadas à globalização informatizadas do hipertexto. No âmbito desse constante diálogo com o mundo, a Jornada de Passo Fundo, nesta edição, com o tema Leitura da Arte & Arte da Leitura busca pensar a leitura num paradigma amplo, que incorpore, como objeto, as várias manifestações artísticas e que perceba o sujeito leitor como um atuante artífice de múltiplas interpretações perante os produtos da cultura. A leitura, nessa concepção, ultrapassa a letra e o impresso e amplia-se nos múltiplos signos da arte, e o leitor, mais do que mero receptor, passa a ser um ativo (re)construtor de sentidos. Tudo isso para assegurar que não se perca a sensibilidade de nossa existência, num momento histórico ainda fortemente amparado pelas constantes renovações do conhecimento científico e pela perturbadora aventura das inovações técnicas, pelas quais tudo parece condenar-se, desde seu nascimento, à obsolescência.

Nos tempos de uma civilização que, em uma de suas faces, glorifica a razão produtiva e lógica utilitarista das estruturas funcionais e das políticas de mercado, a arte surge como uma espécie de necessária compensação a um mundo que, segundo Alcione Araújo, anuncia a inutilidade do que escapa à razão e “acha o amor dispensável se a utilidade vem da reprodução”. Pela leitura da arte, pela compreensão crítica e criativa da beleza estética, numa sociedade global em que impera a velocidade e a automatização, a fruição estética, como um conhecimento humano, permite que se mantenham como valores a subjetividade, a metafísica, a transcendência, a emoção.

Debatendo sobre a arte e sobre a leitura, a 12ª Jornada de Literatura compreende em sua programação a 4a Jornadinha Nacional de Literatura, o 6ª Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio, o 2º Encontro da Academia Brasileira de Letras – Revisitando os Clássicos II, o Encontro de Autores Gaúchos, além de vários cursos. Pelo diálogo entre escritores, artistas, críticos e leitores, a fruição artística será pauta para reflexões que garantam às circunstâncias de vida mais humanidade e, assim, mais justiça.