Espaços alternativos, poesia e valorização dos livros podem estimular a leitura
29/08/2007 - 13:22
Debates no segundo dia do 6º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio foram orientados pelo tema Espaços de leitura. Para o escritor Mia Couto, “ler e criar imagens”.
Foto: Claudio Tavares
Segundo momento da manhã foi um painel sobre “O livro, o jovem e a leitura da poesia”

Uma conferência sobre a formação do leitor literário e dois painéis que trataram dos temas literatura para jovens e espaços de leitura marcaram os debates na manhã desta quarta-feira, 29 de agosto, no segundo dia do 6º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio. O evento integra a programação paralela da 12ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo e acontece no Auditório da Biblioteca Central, Campus I da Universidade de Passo Fundo (UPF), até a sexta-feira, 31.

Contando histórias de seu país, Moçambique, o primeiro a falar para a platéia foi o escritor Mia Couto, ganhador do 5º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura. Ele abordou o tema “A formação do leitor literário” enfatizando que ler é criar imagens. “A leitura é aquilo que nos permite sermos mais vivos, por isso, escrevo para ser feliz e escrevo porque sou feliz, viajo através da palavra”, afirmou, lembrando que a leitura deve fazer a pessoa transitar por várias vidas, vários personagens. “Ler significa estarmos disponíveis a sermos habitados por outra lógica, e escrever também o é”. Para Mia Couto, é preciso valorizar os livros sem perder o jeito de brincar com as palavras.

O segundo momento da manhã, um painel sobre “O livro, o jovem e a leitura da poesia”, contou com a participação do professor, jornalista, conservador de biblioteca, antologista da poesia francesa e tradutor, Henri Deluy. Ele destacou iniciativas de leitura para jovens na França, tendo inclusive publicado poesias brasileiras na Revista L´Action Poétique. “Na França, os jovens respeitam o poeta, mas consideram-no um ser distante. É preciso fazer as pessoas entenderem que poesia não cai do céu, poesia não traz somente o sentimento, trabalha com palavras que expressam muito da realidade”, garantiu. Conforme Deluy, mesmo que seja um trabalho difícil e talvez sem esperança, se faz necessário lutar a favor do ensino da poesia, incentivando os jovens com jogos de palavras. “Os jovens dos bairros mais populares franceses se deparam com um mundo muito difícil e a poesia acaba se tornando longínqua, portanto reitero que, mesmo com pouca esperança, fazemos o nosso trabalho”.

O painel contou também com a participação do responsável pelo escritório e midiatecas da Embaixada da França no Brasil, Jérémie Desjardins. Ele disse que na França, o público que lê poesia é pequeno, mas não há problemas relacionados à oferta de poesia. “Quando promovemos a literatura da França no Brasil, queremos promover a diversidade”, pontuou. Segundo Desjardins, 2009 será o ano da França no Brasil, oportunidade para intensificar a divulgação da poesia francesa no país latino-americano.

Espaços de leitura
O painel “Espaços de Leitura, bibliotecas e ludotecas” teve a participação dos professores César Sánchez Ortiz (Universidade de Castilla-La Mancha, Cuenca, Espanha), Isabel González (Universidade do País Basco) e Vera Teixeira Aguiar (PUCRS).

Ortiz abordou conceitos de biblioteca e alfabetização, lembrando que a biblioteca deve ser um lugar vivo, que fomenta a leitura. Segundo ele, ler não é um jogo, é uma atividade cognitiva e compreensiva enormemente completa. “Ler é um processo, que não deve acontecer somente na escola, mas também na família, com o apoio dos meios de comunicação, entre outros”. Na opinião de Ortiz, há diferença entre a leitura escolar, que é obrigatória, e a leitura voluntária (extra-escolar). “A última é autônoma, ajuda a imaginar novos mundos e interpretar o mundo real”.

Já Vera observou que é preciso criar uma variedade de espaços, modelos diferentes das bibliotecas tradicionais para aproximar mais as pessoas dos livros. Inserir brincadeiras, contação de história (crianças) e círculos de debates, grupos de leitura (para adultos) são alternativas. “Temos bons exemplos de espaços de leitura diferentes, sejam bibliotecas comunitárias, em navios, em praças e o próprio Mundo da Leitura da UPF, iniciativas que chegam até às comunidades, porém, os desafios ainda são imensos”. Ela se considera uma otimista e pensa que os agentes culturais estão cada vez mais atentos a essa problemática.

Seminário
O 6º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio é realizado anualmente. Nos anos das jornadas, que são bienais, a Universidade de Passo Fundo é sede do encontro. Nos outros anos, universidades estrangeiras se alternam na organização. Neste ano, o tema do evento é “Leitura dos espaços e espaços de leitura” e a coordenação dos debates é do professor da UPF, Miguel Rettenmaier. A programação dos próximos dias é a seguinte:

30 de agosto
quinta-feira
31 de agosto
sexta-feira
 
Espaços de ficção
Os jovens e a leitura
 
8h30min
8h30min
 
Conferência
O espaço como ficção
- Gabriel Nuñez  Ruiz (Universidad de Almería – España)
Debatedora: Marly Amarilha (UFRN)
Conferência
A Leitura entre o livro e o computador
-
José Luís Jobim
Debatedora: Regina Zilberman
 
10h
10h
 
Painel
A ficção e a leitura
- Maria Teresa G. Pereira (UERJ)
- Maria Zaíra Turchi (UFG)
- Meshack Asare (África)
Painel
Experiências
de leitura

- João Alegria (Canal Futura)
- Alice Penteado Martha (Anpoll)
- Alcione Araújo (Leia Brasil)
- Nino Machado (UPF)