De um lado, ávidos leitores, professores e alunos entusiasmados mesmo com o frio de três graus da manhã de terça-feira, 20 de agosto, em Passo Fundo. Do outro lado da mesa, ícones da literatura brasileira, antes vistos apenas em cerimônias tradicionais de uma entidade secular. Esse foi o cenário do 2º Encontro da Academia Brasileira de Letras (ABL), realizado durante a programação da 12ª Jornada Nacional de Literatura. No primeiro dia de trabalhos, o presidente da ABL, Marcos Vinícius Vilaça e seu secretário Domício Proença Filho, tomaram a frente das discussões, ampliando os debates - antes restritos aos imortais - para uma platéia de quase 300 pessoas que lotaram o auditório da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo.

Essa é a segunda vez que a Academia muda de endereço e se transfere para a Capital Nacional da Literatura. Marcos Vinícius Vilaça, presidente da ABL, deixou claro sua preocupação com a popularização do trabalho da Academia. “Eu e meus colegas estamos convencidos de que precisamos mudar essa idéia de que a Academia Brasileira de Letras é uma entidade que atua de forma isolada, mais contemplativa, pois isso é equivocado”, Vilaça aponta o encontro realizado na Jornada como uma das principais possibilidades de ampliar a visibilidade e aproximar o leitor do trabalho dos acadêmicos.

Atualmente a ABL tem procurado parceria com diversas entidades, empresários, imprensa e universidades. A preocupação dos acadêmicos é estar em sintonia com as mudanças da sociedade e, ao mesmo tempo, perpetuar uma tradição que já possui mais de 110 anos. Durante esse tempo, a tecnologia tomou conta do meio cultural, provocando preocupação entre os imortais. “Já vi muita gente anunciar o fim do livro, do jornal, do rádio, mas isso nunca se comprovou. A internet não tem cheiro de papel, não tem sentido dizer isso. Ao mesmo tempo, a ABL se preocupa e está informatizando-se cada vez mais. Um exemplo são as atividades que transmitimos on-line, integrando a comunidade com os trabalhos da academia”, comentou o presidente da ABL.

Autor de diversas obras, muitas resultantes de estudos sobre Machado de Assis, o secretário da Academia Brasileira de Letras, Domício Proença Filho, aproveitou a oportunidade para conversar sobre Bentinho, personagem de Dom Casmurro. Um dos principais enigmas da literatura brasileira é justamente a possível traição entre Capitu e Bentino nesta obra. Sobre o impasse secular, Domício diz: “Essa eu deixo para Capitu contar. Leiam as memórias dela, ela conta quase tudo lá”, referindo-se à obra “Memórias póstumas de Capitu”, de sua autoria.

Tanto Proença quanto o reitor da Universidade de Passo Fundo, professor Rui Getúlio Soares, comentaram dados que comprovam a intensa ligação da cidade com a leitura. “Estamos felizes em poder contar com a presença da Academia Brasileira de Letras mais uma vez na Jornada, dando continuidade ao encontro promovido pela casa de Machado de Assis, que aproxima expoentes da literatura brasileira com o público leitor. Ao mesmo tempo, é com muito orgulho que nesse encontro singular comemoramos os dados apresentados pela Câmara Brasileira do Livro, que apontam Passo Fundo com uma média de leitura superior à nacional”, ressaltou o reitor da UPF.

A pesquisa mencionada foi realizada pelo IBOPE no segundo semestre do ano passado e registra a média de livros lidos por ano pela população brasileira. A média nacional ficou em 1,8 livros por ano, enquanto que no Rio Grande do Sul o índice obtido foi de 5,5 e em Passo Fundo de 6,5.

Também participaram do primeiro encontro, Paulo Monteiro, membro da Academia Passo-fundense de Letras e Fabiane Verardi Burlamaque, coordenadora do curso de Letras da UPF.

Próximos encontros
29/08/2007
Evanildo Bechara - José de Alencar: aspectos lingüísticos
Antonio Carlos Secchin - Tomás Antonio Gonzaga - Marilia & Dirceu: assuntos de família"

30/08/2004
Lêdo Ivo - Raymundo Correia
9h 30min – Filme: Português a língua do Brasil

31/08/2007
Moacyr Scliar — O Alienista, a loucura e a medicina
Murilo Melo Filho - Rui Barbosa (Cartas da Inglaterra, Saudação Fúnebre a Machado de Assis, Conferência de Haia e Oração aos Moços)


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