Fadas, dragões e princesas são o caminho para formar novos - e permanentes - leitores e escritores
28/08/2007 - 14:02
Foto: Claudio Tavares
Tema do seminário deste ano Leitura dos espaços e espaços de leitura

“Leitura e tradição” foi o tema da abertura do 6º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, programação paralela à 12ª Jornada Nacional de Literatura. Até sexta-feira, dia 31, pesquisadores brasileiros e estrangeiros discutirão maneiras de formar novos leitores. Para discutir a complexa relação entre cultura e leitura e para contar bons exemplos teóricos ou práticos de formação de novos leitores, pesquisadores brasileiros e estrangeiros, escritores, professores e alunos se reúnem de hoje, dia 28, até o dia 31, no 6º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, que integra a programação da 12º Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo.

O tema deste ano é Leitura dos espaços e espaços de leitura. Participaram do painel de abertura sobre Leitura e tradição Beatriz Oses García, da Universidade de Extremadura; Pascuala Morote Magán, da Universidade de Valencia, e João Luis Ceccantini, da Unesp de Assis. Marly Amarilha, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi responsável pela conferência Leitura e paisagem sonora. O seminário é realizado anualmente. Nos anos das jornadas, que são bienais, a Universidade de Passo Fundo é sede do encontro. Nos outros anos, universidades estrangeiras se alternam na organização.

A escritora espanhola Beatriz Osés, que também é professora de língua e literatura em escola secundária, disse estar surpreendida com o entusiasmo dos participantes e organizadores da Jornada que presenciou ontem na abertura da festa. “Na Espanha me parece difícil reunir tantas pessoas em torno do tema da leitura. É uma outra mentalidade”. Em sua apresentação, Beatriz falou da possibilidade de usar a tradição cultural como base criativa para despertar o interesse dos alunos em sala de aula.

“Colocamos nossos alunos não apenas como leitores, mas também como criadores”. Para ela, a escrita é a maneira fundamental de chegar à leitura. “O ideal é aprender a escrever lendo e aprender a ler escrevendo”. As lendas, de acordo com a pesquisadora, abrem as portas para outros códigos, como a ilustração e a gravura. Isso sem contar que despertam a capacidade de imaginar e criar seres imaginários. Ela mostrou textos e ilustrações do livro que seus alunos criaram em sala de aula, que foi publicado e distribuído em hospitais e outros lugares na Espanha.

A espanhola Pascuala Morote Magán é escritora e ensina língua e literatura na Universidade de Valencia. Ela comentou que a literatura oral oferece uma lição de vida e lembrou que os contos que povoam a memória dos adultos são aqueles que marcaram a infância deles. E foi além dizendo que a música cantada pela mãe para o bebê é o primeiro contato com a poesia.

Pascuala fez um apelo aos professores: “Que não cortem os pequenos enquanto eles estiverem contando algo”. Para a pesquisadora, as crianças vêem coisas novas no caminho para a escola e em outras situações cotidianas e têm a necessidade de falar. Se não forem interrompidos, continuarão contando para o resto da vida. Para ela, o processo de formação é escutar, contar, ler e escrever. “E a literatura permite a interiorização de símbolos e de metáforas”. Ela finalizou lamentando o corte de horas-aula da disciplina de literatura na Espanha, processo que vem acontecendo neste momento em seu País.

Professor de literatura brasileira da Unesp e pesquisador da literatura infanto-juvenil contemporânea, João Luis Ceccantini fez um contraponto às palestrantes que o antecederam para mostrar que a literatura de mercado, assim como a de tradição, lendas e folclore, também deve ser considerada. “Há muito valor ali para ser garimpado”, disse. E lembrou que Monteiro Lobato, o nome mais expressivo da literatura para esse público, era também editor e considerava muito a opinião de seus leitores. Por isso, escrevia obras para serem compradas e lidas.

Paisagem sonora e leitura foi o tema da conferência de Marly Amarilha, Ph.D em Literatura Comparada e professora do Departamento de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Esse trabalho foi motivado pela força narrativa sob a cultura e a formação leitora e também pelo ruído de uma escola pesquisada. “Quando o professor quer controlar e acalmar os alunos, entra na sala de aula e diz que vai contar uma história”. Às vezes isso não funciona. “Ser competente na leitura em voz alta é fundamental para o professor. É como se ele atuasse a história”.

De acordo com a professora, as pessoas têm feito da leitura algo silencioso e de reflexão. “Na interação da letra com a sonoridade, o processo de leitura se redimensiona”, disse Marly. “Ouvir a voz que lê requer cuidado com a paisagem sonora”. Ela falou, ainda, da experiência significativa do ouvinte, começando com a percepção, passando pela informação e chegando à reflexão.

Programação As mesas acontecem até o dia 31 de agosto, das 8h30 às 11h30, no auditório da Biblioteca Central. No Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, de 29 a 31 de agosto, das 17 às 19 horas, serão realizadas sessões de comunicação sobre diversos temas relacionados à leitura, à literatura e à cultura. Ao todo, serão mais de 80 trabalhos produzidos por pesquisadores de várias áreas do conhecimento – o dobro da edição anterior, de 2005. 

29 de agosto
quarta-feira

30 de agosto
quinta-feira

31 de agosto
sexta-feira

Espaços de leitura

Espaços de ficção

Os jovens e a leitura

8h30min

8h30min

8h30min

Conferência
A formação do leitor literário
- Ezequiel Theodoro da Silva (Unicamp)

Conferência
O espaço como ficção
- Gabriel Nuñez  Ruiz (Universidad de Almería – España)
Debatedora: Marly Amarilha (UFRN)

Conferência
A Leitura entre o livro e o computador
-
José Luís Jobim
Debatedora: Regina Zilberman

9h30min

10h

10h

Painel
O livro, o jovem e a leitura da poesia
– Jérémie Desjardins
(Bureau du Livre -
França)
- Henri Deluy (Revista L´Action poétique - Bienal Internacional da Poesia da França)

Painel
A ficção e a leitura
- Maria Teresa G. Pereira (UERJ)
- Maria Zaíra Turchi (UFG)
- Meshack Asare (África)

Painel
Experiências
de leitura

- João Alegria (Canal Futura)
- Alice Penteado Martha (Anpoll)
- Alcione Araújo (Leia Brasil)
- Nino Machado (UPF)

10h

Painel
Espaços de leitura, bibliotecas e ludotecas
- César Sánchez Ortiz (Universidad de Castilla-La Mancha, Cuenca, España)
- Antonio MulaFranco
(Universidade de Alicante - España)
- Isabel Mociño González (Universidade do País Basco)
- Vera Teixeira Aguiar
(PUCRS)