O empresário e bibliófilo José Mindlin, um dos nomes mais respeitados na defesa do livro e da leitura no País, receberá o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Passo Fundo durante a 12ª Jornada Nacional de Literatura, que acontecerá na cidade gaúcha entre 27 e 31 de agosto.
“Há muitos anos fui convidado para participar de uma Jornada de Literatura e não lembro por qual motivo declinei do convite. Passaram-se vários anos e algumas vezes me perguntei por que não fui mais convidado para ir a Passo Fundo. Agora veio o convite derradeiro. Fiquei emocionado pela indicação e certamente estarei com meus familiares no dia 30 de agosto para receber essa honrosa homenagem”.
“Ao lado de sua carreira empresarial, José Ephrim Mindlin sempre colecionou livros; mas, acima de tudo, leu livros. Bacharel em Direito, colecionou livros em todas as áreas e é leitor não apenas da literatura, mas de vários temas do conhecimento. Homenageamos, portanto, o cidadão, o empresário, mas, acima de tudo, o maior bibliófilo do Brasil, reconhecido nacional e internacionalmente”, afirmou a professora Tania Rösing, coordenadora geral da Jornada Nacional de Literatura.
Dono da maior coleção particular de livros do País, Mindlin, de 92 anos, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras no ano passado. A paixão pelo livro e pela leitura é o tema das três obras que publicou: “Uma Vida Entre Livros – Reencontro com o Tempo” (EDUSP/Companhia das Letras), “Memórias Esparsas de Uma Biblioteca” (Imprensa Oficial do Estado/Escritório do Livro) e “Destaques da Biblioteca Indisciplinada de Guita e José Mindlin” (Edusp/Fapesp/Fundação Biblioteca Nacional).
Em maio do ano passado, o bibliófilo doou parte do seu acervo – a Biblioteca Brasiliana, com mais de 25 mil volumes, muitos deles raros – para o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP). A coleção irá para a Biblioteca Mindlin no futuro prédio do instituto.
A relação amorosa do empresário com os livros tem quase 80 anos. “Aos 13 anos ganhei um exemplar da “História do Brasil”, de Frei Vicente do Salvador, então passei a colecionar livros, mas não tinha intenção de formar uma biblioteca”, conta. Segundo seus cálculos, acredita ter lido oito mil volumes. E diz que gostaria de viver 300 anos para poder ler algo em torno de 25 a 30 mil livros.
Entre as preciosidades que garimpou estão a primeira edição de “Os Lusíadas”, de 1572, a primeira edição ilustrada dos “Sonetos de Petrarca”, de 1488, e os originais de “Grande Sertão: Veredas”, publicado em 1956. Além do original datilografado por Guimarães Rosa, Mindlin possui a primeira edição corrigida pelo próprio autor, de quem foi amigo.
Filho de um casal de judeus nascidos em Odessa, José Mindlin tinha apenas quinze anos quando foi contratado como repórter pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Participou da Revolução de 1930 e pouco depois abandonou o jornalismo para estudar Direito na Universidade de São Paulo. Trabalhou como advogado durante mais de uma década, até fundar a Metal Leve, indústria que se tornou uma das mais importantes do setor de autopeças. Vendeu a empresa em 1996 e passou a se dedicar inteiramente aos livros.
A Universidade de Passo Fundo já concedeu título de Doutor Honoris Causa ao escritor paraibano Ariano Suassuna, entregue durante a Jornada Nacional de Literatura em 2005. O pensador francês Edgar Morin foi homenageado em 2003 e recebeu o título de Professor Honoris Causa.